terça-feira, 20 de julho de 2010

O Menino Sem Tempo

O menino sem tempo
Para o Daniel

Era uma vez um menino sem tempo. Ele corria, corria e o tempo nunca esperava para ele o agarrar. Tudo o que fazia era a pensar no que faria a seguir. Das aulas de natação para o karaté, dos percursos de leitura para os intervalos com os amigos, da vida para o que deve ser a vida.

O menino sem tempo esquecera a poesia das plantas que brotam nas manhãs frias de nevoeiro. Ele quase nada sabia da arte de espreitar as cigarras no Verão ou de fugir à chuva no Inverno. Contudo, sabia muitas coisas que os meninos da sua idade desconheciam: a diferença exacta entre uma caravela e uma nau, a constituição quase precisa das estrelas que as outras pessoas admiravam nas noites de céu limpo e muitos factos mais. Poderíamos quase dizer que o menino sem tempo era um sábio, se não fosse pela questão do tempo que não se deixava apanhar.

Uma manhã o menino acordou e o tempo estava à sua espera. Nesse dia, o menino fez tudo o que queria sem se preocupar com a tarefa seguinte. A tarde passou lentamente à medida que cumpria as tarefas planeadas para aquele dia. Ainda teve tempo para passear no parque nesse dia brilhante de Outono e de apanhar um passarito fugido de uma gaiola.
O menino levou o pássaro para casa e tomou conta dele. A partir desse dia sem tempo, o menino nunca mais se queixou da falta de tempo para fazer aquilo que mais gostava. De facto, apercebeu-se de que havia dias em que mal parecia existir a não ser para as tarefas que o esperavam. Mas era necessário crescer. Crescer é difícil e correr atrás do tempo é uma forma tão boa como outra qualquer de ocupar… o tempo.

Sara Timóteo

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